Aulas

Crônica Narrativa

          A crônica é um texto curto que se concentra em só um fato, algo do cotidiano. Por exemplo , algo que você tenha visto na rua, algo que aconteceu no seu dia. Poucos personagens, só mesmo os envolvidos diretamente no fato que você vai contar.
          Tem um tempo cronológico curto, isto é, tudo se passa rápido, em um dia, ou menos que isso.
Uma característica marcante na crônica é que ela apresenta uma estrutura livre. Por isso mesmo tende ao hibridismo de gênero. Segundo Bender e Laurito (em A crônica: história, teoria e prática, Editora Scipione), Cecília Meireles tem a tendência à poesia a ao misticismo; Drummond, às reflexões; Luis Fernando Veríssimo, Stanislaw Ponte Preta e Millôr Fernandes ao humor; Paulo Mendes Campos à prosa poética; Rachel de Queiroz, ao social e Clarice Lispector ao existencial, enquanto que Rubem Braga faz transcender o fato miúdo.
          Conte alguma coisa que tenha acontecido com você ou com alguém que você conheça, fica bem mais fácil. Você pode também inventar, ou se basear em alguma notícia vista nos jornais.
As características abaixo foram citadas por vários autores que tentaram entender a crônica enquanto estilo literário:
          • Ligada à vida cotidiana;
           • Narrativa informal, familiar, intimista;
          • Uso da oralidade na escrita: linguagem coloquial;
          • Sensibilidade no contato com a realidade;
          • Síntese;
          • Uso do fato como meio ou pretexto para o artista exercer seu estilo e criatividade;
          • Dose de lirismo;
          • Natureza ensaística;
          • Leveza;
          • Diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa fiada;
          • Uso do humor;
          • Brevidade;
          • É um fato moderno: está sujeita à rápida transformação e à fugacidade da vida moderna.

          Para se fazer uma boa narração é muito importante saber:
           - O fato que será narrado (O quê?);
           - O tempo em que o fato vai está (Quando?);
          - O lugar onde vai ocorrer o fato (Onde?);
          - Quais personagens vão fazer parte de história (Com quem?);
          - Qual o motivo(por que) ocorreu tal situação (Por quê?);
          - Como se deu o fato (Como?);
          - E as conseqüências ( desfecho da história)
Etapas para escrever sua crônica:
1. Escolha algum acontecimento atual que lhe chame a atenção. Você pode procurá-lo em meios como jornais, revistas e noticiários. Outra boa forma de encontrar um tema é andar, abrir a janela, conversar com as pessoas, ou seja, entrar em contato com a infinidade de coisas que acontecem ao seu redor. Tudo pode ser assunto para uma crônica.
É importante que o tema escolhido desperte o seu interesse, cause em você alguma sensação interessante: entusiasmo, horror, desânimo, indignação, felicidade... Isso pode ajudá-lo a escrever uma crônica com maior facilidade.
2. Muito bem. Agora que você já selecionou um acontecimento interessante, tente formular algumas opiniões sobre esse fato. Você pode fazer uma lista com essas idéias antes de começar a crônica propriamente dita.
Frases como as que seguem abaixo podem ser um bom começo para você fazer a sua lista:
"Quando penso nesse fato, a primeira idéia que me vem à mente..."
"Na minha opinião esse fato é..."
"Se eu estivesse nessa situação, eu..."
"Ao saber desse fato eu me senti..."
"Sobre esse fato, as pessoas estão dizendo que..."
"A solução para isso..."
"Esse fato está relacionado com a minha realidade, pois..."
Como você deve ter notado, é muito importante que o seu ponto de vista, a sua forma de ver aquele fato fique evidente. Esse é um dos elementos que caracterizam a crônica: uma visão pessoal de um evento.
3. Agora que você já formou opiniões sobre o acontecimento escolhido, é hora de escrever sua crônica. Seu ponto de partida pode ser o próprio fato, mas esse também pode ser mencionado ao longo do texto, como ocorre na crônica exemplificativa de Ricardo Semler.
Escreva! Pratique! E procure usar a criatividade para criar seu próprio estilo, pois é isso que faz de um escritor um bom cronista.
EXEMPLO DE CRÔNICA NARRATIVA:

 Amizade verdadeira

(cão tenta salvar amigo atropelado)

Em um dia, caminhava tranquilamente pela calçada, quando avistei um cão correndo apavoradamente em minha direção e logo atrás, vejo um homem correndo e gritando sacudindo uma vara com uma corda na ponta na tentativa de pegá-lo.

Quando o cachorro já estava bem próximo, lati pra ele se esconder dentro de uma caixa ao meu lado para despistar o homem, mas foi como se ele não tivesse me ouvido, ois passou direto por mim. Um único e rápido latido foi suficiente para o cachorro não me ouvir e o homem sim, o que me fez correr tão rápido e apavorado quanto orgulhoso.

Quando alcancei o cão, ele latiu alto para que nos escondêssemos num beco sem saída, atrás das latas de lixo. Por sorte deu certo, o homem passou direto, louco de raiva nos procurando.

Observei o cão comemorando a liberdade e notei que havia algo errado com ele, e pelos seus gestos, descubro que era surdo. Mas isso não nos empediu de sermos grandes amigos. Roubávamos carnes dos açougues, assustávamos os pombos e corríamos juntos do homem da carroçinha e sempre o despistávamos. Algumas vezes ele caia tropeçando de cansaço pela rua e voltávamos para arrancar seus sapatos.

Certo dia, parei em frente a uma loja de doces e planejava um assalto as rosquinhas em cima de uma mesinha baixa. Pug não quis participar do plano e muito menos do assalto, decidiu ficar do lado de fora esperando. Na loja, tive a proeza de pegar três rosquinhas. Sai correndo e saltitando de felicidade, mas quando sai não vi Pug. Procurei por alguns segundos até o encontrar atropelado no meio da avenida.

Desesperado, largo as rosquinhas e corro até ele, ignorando o perigo dos caminhões e carros que não hesitavam em passar rapidamente. Quando cheguei perto o cheirei e notei que ainda estava vivo, o que me desesperou ainda mais. Comeceie a arrastá-lo na tentativa de tirá-lo do meio da avenida, mas quando consegui trazê-lo até a margem, ele já havia morrido. Homens se aproximaram e recolheram o corpo de Pug, mas com medo de me levarem para o canil, fugi logo em seguida.

Alguns anos depois, mesmo estando velho, fazia as mesmas coisas que fazia quando era jovem: roubei muita comida e doces, corri o maximo que pude atrás de pombos e da carne. Sempre dando o máximo de mim, tentando ser feliz em homenagem ao meu melhor e único amigo.
                       

 (Alunas do 2º N 6: Stephanne Iara e Jéssica Thaís.)

A crônica argumentativa



Temática principal do gênero em pauta – fatos ligados ao cotidiano

A crônica é um gênero textual bastante evidenciado em jornais, escritos ou televisionados, e em revistas. Sua origem deriva-se do latim Chronica e do grego Khrónos (tempo). Exatamente por este fator é que se deve o seu surgimento, pautado por um relato de acontecimentos históricos e registrados em ordem cronológica.

Só a partir do século XIX, retratada por um teor mais crítico, foi divulgada em jornais e folhetins, caracterizada por um texto que falava de maneira generalizada sobre os acontecimentos do dia a dia, adentrando posteriormente no campo da Literatura.
Uma de suas relevantes características se deve à ótica de como os detalhes são observados, pois o fato possibilita ao cronista relatar de forma individual e original os fatos sob diferentes ângulos.

A temática pela qual perpassa o gênero em questão costuma estar ligada a questões circunstanciais ligada ao cotidiano, como por exemplo, um flagrante na esquina, o comportamento de uma criança ou de um adulto, um incidente doméstico, dentre outros. Trata-se de um texto curto, geralmente com poucos personagens, no qual o tempo e o espaço são limitados.

Além da crônica narrativa, anteriormente mencionada, há uma modalidade mais moderna, a argumentativa, na qual o objetivo maior do cronista é relatar um ponto de vista diferente do que a maioria consegue enxergar.

Ele, usurfruindo-se do bom humor mesclado a toque sutil de ironia, aposta no intento de fazer com que as pessoas vejam por outra “face” aquilo que parece óbvio demais para ser observado.

Seu caráter discursivo gira em tono de uma realidade social, política ou cultural, onde esta realidade é verbalizada em forma de protesto ou de argumentação, quase sempre envolta por um tom até mesmo sarcástico, no intento de criticar as mazelas advindas da esfera social.

Desta forma, visando aprimorar nossos conhecimentos sobre o referido assunto, analisaremos alguns fragmentos da crônica intitulada
**exemplo:
 Pré-Sal, de Antônio Prata:

Dizem que otimista é o cara que vê o copo meio cheio, enquanto pessimista é quem o enxerga meio vazio. A imagem é batida, mas vem a calhar, pois não é outro o tema desta crônica senão a água. Muita água. Trilhões de litros de H2O, que serão acrescidos aos oceanos nas próximas décadas, quando as calotas polares derreterem.

Os pessimistas, claro, só conseguem ver o lado ruim da mudança climática: a morte de milhões de pinguins, focas, leões marinhos, ursos polares e a extinção de algumas espécies desconhecidas; o alagamento de certas cidades litorâneas como Rio de Janeiro, Nova York, Xangai, Veneza, Barcelona e a perda de boa parte do patrimônio histórico e cultural da humanidade; o aumento de catástrofes naturais como tufões, furacões, dilúvios, enchentes e a desgraça humana decorrente desses aguaceiros. OK. O Rio é legal. As focas e a Piazza San Marco, também. Mas focar-se (sem trocadilho) apenas nos aspectos negativos da lambança climática impede-nos de perceber outros acontecimentos maravilhosos que se avizinham. Praia em São Paulo, por exemplo.

Claro que a tese ainda não é um consenso entre a comunidade científica. Alguns estudiosos, desses que só conseguem ver a parte vazia do copo, afirmam que, por mais que a gente queime todo o petróleo existente, o aumento do nível dos oceanos será apenas de alguns metros. Cientistas de ânimo mais solar, contudo, garantem que o que conhecemos como polo norte é, literalmente, apenas a ponta do iceberg e, se tudo der certo, antes de 2020, vai ter prédio na Berrini com vista pro mar.

Quanta coisa boa há de acontecer! Já pensou que belo cartão postal, a ponte estaiada com praia ao fundo? E seus filhos colhendo mexilhões nos pés do Borba Gato? Consigo ver, facilmente, a 23 de Maio tomada por ambulantes, vendendo óleo bronzeador, canga, Shhhhkol e Biscoito Globo. O Morumbi, com as casonas nas colinas, debruçadas sobre o mar, será a Beverly Hills paulistana. E nossos restaurantes, já tão afamados, o que não farão com peixes fresquinhos e frutos do mar, trazidos diretamente pela comunidade caiçara de Santo Amaro? O lago do Ibirapuera não teve sempre a vocação para ser a nossa Rodrigo de Freitas? E qual o sonho da Vila Nova Conceição, senão tornar-se a Barra da Tijuca?

Cruzemos os dedos, meus queridos paulistanos, pois muito em breve, quando as margens plácidas do Ipiranga ouvirem um estrondo, não será o brado retumbante de um povo heroico, mas o som das ondas quebrando na Avenida do Estado. E, nesse instante, o sol da liberdade, com seus raios fúlgidos, dourará os corpos estirados à beira mar. E ainda tem gente preocupada com o futuro. Tsc tsc...

Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola